lundi 24 septembre 2007

“Cooperação com lagrimas”


Daqui da arquibancada da minha ignorancia, que so sei que nada sei, tenho seguido o debate em torno das lagrimas do primero ministro de Cabo Verde - José Maria Neves, a entrevista do investigador português, à agencia Lusa.

Confesso que de inicio, achei hilariante toda esta historia. Pois, é uma primeira esta da “cooperaçao com lagrimas”, por outro lado impressiona-me a logica posicional do investigador português neste processo de cooperaçao.

Pensava eu, que as tomadas de decisões em materia de cooperação se fizessem basicamente em torno da negociação. Supunha, que, esta ultima, permitisse ás partes envolvidas, afrontarem-se, com o objectivo de encontrarem possiveis bases de entendimento.

O que vieram, entao, as lagrimas do primeiro Ministro de Cabo Verde, fazer a publico? Pressuponho que antes de se deslocar a STP José Maria das Neves ja sabia de antemão em que condiçoes seus compatriotas viviam. Lembro-me que em finais de 2006 uma delegação de Cabo Verde havia estado em STP, afim de se inteirar, da sorte, de seus compatriotas que habitavam no meio rural. Daí, a pergunta, sera que as lagrimas de JM Neves, rolaram na ausencia de um projecto mais consubstancial para oferecer aos caboverdianos? Sera que na altura JMN, nao tinha mais nada a propôr a seus compatriotas? Ou sera que as lagrimas do primeiro ministro, apenas tinham o intento de reforçar sua posição na mesa de negociações?

A ser assim, as lagrimas de José Maria, deixariam de ser apenas um liquido segregado pelas suas glandulas lacrimais, para se transformarem em mais um elemento a adicionar à mesa de negociaçoes. No centro das atençoes, deixavam de estar, então, as lagrimas do primeiro ministro de Cabo Verde, passando a estar a representação em torno das ditas “lagrimas”. No contexto em que foram produzidas, as ditas lagrimas, inserem-se na continuidade do processo de construçao destes dois estados insulares, STP e CV, enquanto realidade social e politica.

José Maria ao verter algumas lagrimas em publico apenas fez uma tentativa de acordar o “passado adormecido” nos “terreiros das roças” em STP. Fazendo pender, desta feita, o prato da balança das negociaçoes, a seu favor. Até aqui nada de especial. Jose Maria estava apenas a tentar impor-se. Isto é, JM Neves jogou forte a nivel simbolico. Forçando, desta forma, o novo sistema de regras, fazendo com que, o acordo final, pendesse a seu favor. Tudo bem.

Agora, espanta-me o mutismo dos responsaveis Sao-tomenses. Fico, tao mais, espantada quando, a entrevista do investigador portugues surge, aprarentemente, no sentido de “embalsamar” as “sacrossantas lagrimas”, de JMN, parecendo, querer perpetuar, a velha relaçao que existia, entre caboverdianos e portugueses, por um lado e entre Cabo verdianos e os restantes grupos sociais, por outro lado. Espanta-me a forma como o investigador português parece, sublinho, parece, instrumentalisar o conhecimento cientifico!

Daí, que eu tente pronunciar em voz alta a pergunta que me cala a voz, ha alguns dias, a saber, qual é o papel do investigador na sociedade? Certamente, esta pergunta nao é nova. é. Pergunta quase tão velha como a propria ciencia. é. Por isto faz-nos sorrir a todos. Nao tem mal. Assim, pergunto qual é o papel do investigador nos meandros da cooperaçao norte/sul?

Sera que tem mal algum que os investigadores sejam vigilantes, que alertem o poder politico e a esfera publica para os problemas de sociedade? à primeira vista, penso, que nao. Alias o professor Mendes Ferrao martelou-nos a cabeça durante as aulas com a maxima: “aos tecnicos cabe informar aos politicos decidir”. Pressuponho, que isto signifique informar com clareza, independentemente, da utilizaçao dos decisores politicos, independentemente das simpatias que se possa ter, por este, ou por aquele povo, independentemente, do respeito que esta ou aquela naçao possam inspirar. Informar com clareza por respeito à ciência, informar com clareza por respeito aos seus colegas, informar com clareza por respeito à investigaçao enquanto tal, informar com clareza por respeito à academia.

Por favor corrijam-me se eu estiver errada: é coerente relacionar “os indices de frequencia de escolaridade com a pobreza nas roças em STP? Talvez. Mas, o que é a “roça”. A roça, grosso modo, nao é mais do que uma plantaçao agricola, e mais, as roças ja nem sequer existem em STP, foram vitimas de processos de reformas agrarias. A maior parte dos caboverdianos de quem estao, para aqui, a falar sao hoje “propriétarios” de suas parcelas de terreno. Coisa que nunca foram, nem no tempo colonial, nem no tempo da primeira Republica de STP. Ao tornarem-se “proprietarios” os antigos trabalhadores das roças (caboverdianos, angolanos, moçambicanos, forros e angolares) passaram a existir como individuos. Independentes. Satisfeitos, com a sua nova condiçao.
Agora, o que poderiamos analisar, o que deveriamos analisar seria, o lugar desses proprietarios, na agricultura de STP, seria o lugar que a agricultura ocupa hoje em STP, qual é a importancia que o governo Sao-tomense, acorda, neste momento à agricultura, e para terminar qual é o lugar deste pequeno país insular na agricultura mundial? A partir dai talvez possamos tirar com clareza, elaçoes acerca da pobreza no meio rural e consequentemente dos caboverdianos que aí vivem.

Sejamos pragmaticos, Sao Tomé e Principe, tem condiçoes edafoclimaticas que Cabo Verde por enqto, não as tem. Em vez de estarmos, a criar fracturas sociais, la, onde aparentemente nao existem, em vez de estarmos a esgravatar subsolos para fazermos a arqueologia do conflito sencacional, seria interessante se podessemos definir estrategias de desenvolvimento integradas, de maneira que soubessemos, a priori, o que queremos, e do que precisamos, ao invés de estarmos à procura de lagrimas, quiça, petrificadas pela pena magica de investigadores, consubstanciando, assim, politicas de desenvolvimento avulso, do genero “tapa furos”.

Pois, como disse
Langa, num de seus comentarios aqui “No meu entender as relações que estabelecemos no âmbito da busca – incansável – pelo desenvolvimento põe a prova, todos os dias, se merecemos ser considerados um estado soberano” e isto é valido tanto para Sao tomé e Principe como para Cabo Verde.

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