Tenho assistido ha meses um debate em torno de Mugabe, sem nunca me ter imiscuido.
Fiz uma tentativa de debater aqui e aqui, ao que parece foi infeliz. Pois, nao era para Mugabe, a quem, eu olhava, mas, sim, para mim. E isto aconteceu por duas vezes. Mugabe teve o condão de me colocar, face a mim propria. Ao fazer eventualmente, um discurso sobre Mugabe, uma multiplicidade de identidades pessoais me foram reveladas. O facto de ter sido obrigada a emigrar, o facto de ter sido obrigada a renuciar a meus diplomas e trabalhar, num restaurante -bar a sushi, o que, de vez em quando, acumulo com o trabalho de baby-setting, o facto de que, a minha carta de residencia esteja prestes a expirar, etc, etc, etc.
Ora, identifiquei-me, com, a totalidade das minhas impotencias, face aos decisores de poder africanos. Tem isto algum mal? Não creio. Apenas, projetei em Mugabe as injustiças de que julgo ter sido vitima, projetei em Mugabe a imagem do meu silencio falado, em retorno obtive um silencio calado. Por isto, peguei no telefone e liguei, para , elisio... nao obtive grande coisa como resposta, a nao ser que o “silencio” faz parte das regras da argumentação. é possivel.
Mas, penso, tambem, que o silencio, é uma forma perniciosa de recusar o debate. O silencio é uma forma de exclusão. Pois face a ele, fico, no mínimo, confusa. Creio estar-me, assim, a ser negada a possibilidade de contrargumentar. Esta-me a ser negada a possibilidade de, eventualmente, corrigir um hipotético erro. Mas, pior do que ser excluida é desconhecer as causas da exclusão. Esta situação, como é obvio, deixa-me confusa, na medida em que fico sem saber ao que reagir. Confusa e excluida. Contudo é uma situaçoa que nao deixa de ser interessante, por duas razões, aparentemente antagonica. Primeiro, elas revelam a nossa crença na ideia de que o silencio designa objectos claros. Claramente definidos. Contextualizados. Segundo, nao conseguimos identificar tais objectos. Os objectos nao sao claros.
Pois, se o silencio envia à calma, aparente, descanso do espirito e da alma, ele é tambem uma interrupçao de trocas de ideias. A contradição é evidente. Não obstante, é também evidente que existe algo em comum entre as duas razoes. Em ambos os casos o silencio procura transmitir um sentido. Mas qual?! Nao sei. Mas, sei, que, assim, o silêncio torna-se, percursor de um campo propício a novas relaçoes sociais, recomposiçao do espaço, um espaço, digamos, monolitico. Sera que é isto que desejamos para a nossa esfera publica? Creio que nao. Podemos descrever as implicaçoes emocionais em torno da acçoa de “Mugabe” pelo silencio? Nao creio. Podemos descrever as implicaçoes politicas e sociais em torno das questoes mais disparatadas que as pessoas possam ter? nao creio. Podemos compreende-las? nao creio. Podemos descrever o mundo atraves do silencio? Comunicamos atravez do silencio? Nao creio. Entao o que significa realmente o “silencio” na esfera publica? Sera que so podemos comunicar com aqueles com quem comunhamos ideias semelhantes? É verdade que deve ser mais facil. Mas, isto é razao para se bloquear uma comunicaçoa? Ao insistir-se numa ideia? É agressao? Ou sera incompreensao? Ou sera apenas a certeza da duvida?
Quanto a mim o facto de ter projectado a imagem das minhas impotencias em Mugabe, representa, apenas, que o problema em torno de Mugabe é bastante mais complexo... Significa que o facto de trabalhar num bar a sushi, nao me tornei japonesa, isto é Africa ainda representa algo para mim. Devo envergonhar-me desta constataçao? Nao. Os meus pensamentos, assim insignificantes sejam eles, servem para mudar, o mundo à escala do meu lugar. Mas, fico com duvidas, se o facto de trabalhar num bar a Sushi, permite-me integrar uma esfera publica, cujo suporte é a palavra? “Mon “mugabe” à moi” sera percursosr de exclusão a todos os azimutes? Nao sei. Mas, sei, que “mon Mugabe à moi”, me envia, a mim propria, apenas, a imagem , de uma mulher, interessada e sensivel, nao obstante todos as contrariedades que a vida lhe possa ter inflingido, ela ainda sorri... participando, como, pode, e, num espaço onde a palvra é, julgo eu, a minha patria.
Fiz uma tentativa de debater aqui e aqui, ao que parece foi infeliz. Pois, nao era para Mugabe, a quem, eu olhava, mas, sim, para mim. E isto aconteceu por duas vezes. Mugabe teve o condão de me colocar, face a mim propria. Ao fazer eventualmente, um discurso sobre Mugabe, uma multiplicidade de identidades pessoais me foram reveladas. O facto de ter sido obrigada a emigrar, o facto de ter sido obrigada a renuciar a meus diplomas e trabalhar, num restaurante -bar a sushi, o que, de vez em quando, acumulo com o trabalho de baby-setting, o facto de que, a minha carta de residencia esteja prestes a expirar, etc, etc, etc.
Ora, identifiquei-me, com, a totalidade das minhas impotencias, face aos decisores de poder africanos. Tem isto algum mal? Não creio. Apenas, projetei em Mugabe as injustiças de que julgo ter sido vitima, projetei em Mugabe a imagem do meu silencio falado, em retorno obtive um silencio calado. Por isto, peguei no telefone e liguei, para , elisio... nao obtive grande coisa como resposta, a nao ser que o “silencio” faz parte das regras da argumentação. é possivel.
Mas, penso, tambem, que o silencio, é uma forma perniciosa de recusar o debate. O silencio é uma forma de exclusão. Pois face a ele, fico, no mínimo, confusa. Creio estar-me, assim, a ser negada a possibilidade de contrargumentar. Esta-me a ser negada a possibilidade de, eventualmente, corrigir um hipotético erro. Mas, pior do que ser excluida é desconhecer as causas da exclusão. Esta situação, como é obvio, deixa-me confusa, na medida em que fico sem saber ao que reagir. Confusa e excluida. Contudo é uma situaçoa que nao deixa de ser interessante, por duas razões, aparentemente antagonica. Primeiro, elas revelam a nossa crença na ideia de que o silencio designa objectos claros. Claramente definidos. Contextualizados. Segundo, nao conseguimos identificar tais objectos. Os objectos nao sao claros.
Pois, se o silencio envia à calma, aparente, descanso do espirito e da alma, ele é tambem uma interrupçao de trocas de ideias. A contradição é evidente. Não obstante, é também evidente que existe algo em comum entre as duas razoes. Em ambos os casos o silencio procura transmitir um sentido. Mas qual?! Nao sei. Mas, sei, que, assim, o silêncio torna-se, percursor de um campo propício a novas relaçoes sociais, recomposiçao do espaço, um espaço, digamos, monolitico. Sera que é isto que desejamos para a nossa esfera publica? Creio que nao. Podemos descrever as implicaçoes emocionais em torno da acçoa de “Mugabe” pelo silencio? Nao creio. Podemos descrever as implicaçoes politicas e sociais em torno das questoes mais disparatadas que as pessoas possam ter? nao creio. Podemos compreende-las? nao creio. Podemos descrever o mundo atraves do silencio? Comunicamos atravez do silencio? Nao creio. Entao o que significa realmente o “silencio” na esfera publica? Sera que so podemos comunicar com aqueles com quem comunhamos ideias semelhantes? É verdade que deve ser mais facil. Mas, isto é razao para se bloquear uma comunicaçoa? Ao insistir-se numa ideia? É agressao? Ou sera incompreensao? Ou sera apenas a certeza da duvida?
Quanto a mim o facto de ter projectado a imagem das minhas impotencias em Mugabe, representa, apenas, que o problema em torno de Mugabe é bastante mais complexo... Significa que o facto de trabalhar num bar a sushi, nao me tornei japonesa, isto é Africa ainda representa algo para mim. Devo envergonhar-me desta constataçao? Nao. Os meus pensamentos, assim insignificantes sejam eles, servem para mudar, o mundo à escala do meu lugar. Mas, fico com duvidas, se o facto de trabalhar num bar a Sushi, permite-me integrar uma esfera publica, cujo suporte é a palavra? “Mon “mugabe” à moi” sera percursosr de exclusão a todos os azimutes? Nao sei. Mas, sei, que “mon Mugabe à moi”, me envia, a mim propria, apenas, a imagem , de uma mulher, interessada e sensivel, nao obstante todos as contrariedades que a vida lhe possa ter inflingido, ela ainda sorri... participando, como, pode, e, num espaço onde a palvra é, julgo eu, a minha patria.
2 commentaires:
interessante sao as tuas inquietacoes. o mugabe é as vezes uma manifestacao exacta do dialogo que temos com nossas proprias certezas. a fragilidade do debate nao é o silencio, mas as palavras que nao sao ditas ou faladas.
Ola Jorge. Comentario interessante e profundo, o teu. Obrigado. é. colher algumas certezas, libertando o espaço para que se plantem novas duvidas...
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